quinta-feira, 24 de março de 2011

À LUZ AMARELA DE UM ABAJUR





Meu quarto me lembra, às vezes, um quarto de hotel.

Ventilador de teto girando. Velocidade mínima. Hipnotiza.

Pela fresta da persiana entra a luz envelhecida do sol.

E eu faço uma pergunta.

“Já acendeu um isqueiro na claridade intensa da luz do sol?”

Se sua resposta for não. Se tiver vontade faça um dia.
Veja o pequeno alaranjado envelhecido surgir encontrando o gás.

Quero acender de novo.

Fico olhando e o isqueiro falha. A fumaça faz um círculo.
Tenho tanto trabalho pra fazer e relatório pra entregar que só saio do escritório para a sacada. Querendo ouvir os pássaros.

Em dia nublado então, tudo parece um filme antigo. Preto e Branco.

Casablanca.

Clássico.

A nostalgia dos dias nublados é a máxima catarse desses filmes.

Volto a olhar pela janela e o sol ainda não se pôs.
Ainda bem.






fonte foto: http://br.olhares.com/janela_para_o_sol_foto1888374.html Autor: Ricardo Fernando Silva

quarta-feira, 23 de março de 2011

DESEMBARQUE

                                                              



Aqui.

Onde o sol é sempre quente. E de noite esfria. Viver aqui é simples. Ninguém quer que o esforço destrutivo atrapalhe as coisas.

Então eu vim 20 anos atrás com uma mochila.

Ainda lembro o que tinha no bolso lateral. Balas de abacaxi.

Tudo começou com um chiclete. Na verdade meio. E fui mastigando enquanto andava. Combinação hipnotizante.

Sol quente.
Andei até o banco e pedi ao guarda para entrar. 
É um ambiente tenso dentro do banco, dão muito valor ao valor que eles mesmos criaram.

Pedi vinte moedas, saí pra rua e fui gastá-las.

Como é bom ter um óculos de sol.
Comprei uma barra de chocolate e andei pela calçada observando...

Um asfalto primitivo, tipo solo romano onde os saltos altos das mulheres não se dão bem hoje em dia.

Passei na frente de uma faculdade. Movimento intenso, muita energia pensante. Lembrei quando freqüentava uma.

Resolvi parar para contemplá-la, mas uma buzina me levou a olhar pra trás, e percebi uma escola pública.

Muito interessante. 

Primário e graduação tão próximos, uma rua as separando. 
Dava pra ver uma criança atravessando-a e envelhecendo conforme caminhava.

Chocolate dá uma sede impressionante.

Achei uma senhora distribuindo água. Pedi uma garrafa e lhe ofereci uma moeda, que com insistência ela aceitou.

Nesse calor fui bebendo água e pensando. Contemplando. Andando.  

Lembrei da bala de abacaxi e peguei uma no bolso lateral, coloquei-a na boca e num instante lembrei de casa.

Que bela bala.

A água tornou tudo muito mais refrescante. Tropical.
Um carro estacionado tinha placa de Florianópolis. E combinou com tudo.


Onde moro é Aqui. Mas esse não é meu lar.